As fotos acima foram tiradas por um dos componentes do grupo de motociclitas, Brasileuros, Edison Pratini, que se encontra em Munique desde março passado e aproveitou este período para fazer uns passeios a fim de encontrar algum trecho diferente do que traçamos inicialmente. Pois bem, ele encontrou o Mittenwald que é um município da Alemanha, localizado no estado da Baviera. Se o restante do grupo topar, é um lugar que iremos. Vejam o relato dele sobre esse lugar:
Mittenwald:
a surprise from Hochschule.
Às
6h30 acordo com uma sensação de que hoje será um dia cansativo mas, para
socializar com os outros fellows, vou participar de uma excursão oferecida pela
Universidade para uma cidade ou village chamada Mittenwald ao pé do pico
Karwendelklettersteig. Não li a programação e, portanto, não sei porque devemos
voltar somente às 22h30. Sou o primeiro do grupo a chegar na Hauptbahnhof,
estação central de trens em Munique e vejo que nosso trem já está bem cheio
pela popularidade do destino final, Innsbruck. Madhu, minha colega indiana
chega a seguir e se encarrega de reservar assento para os outros enquanto
espero por eles na plataforma.
Todos
acomodados, com duas horas de viagem e muitas paradas, Mittenwald aparece para
mim - já acostumado com esta região - como mais uma estação no início dos Alpes
germânicos. Somos recepcionados pela guia Silvia que passa a contar
histórias sobre as fachadas decoradas de forma peculiar e sobre a
indústria de violinos que faz parte da fama da cidade. A cada passo neste
passeio o entorno de montanhas se mostra mais espetacular, enquanto que o pico
para onde devemos subir de cable-car fica mais e mais nublado.
Sem
querer perturbar o passeio com minha preocupação, continuo sem entender a demora
em subir e a tranquilidade da nossa "chefe" Heidi com relação às
nuvens na montanha. Lá pelo meio da tarde começamos a caminhada que leva à
estação do cable-car.
Embora
o Karwendelklettersteig não esteja entre as montanhas mais famosas ou mais
altas da Alemanha, a subida no cable-car dá uma amostra do que poderá ser o
espetáculo por aqui se as nuvens do topo se dissiparem, o que fico a duvidar.
Já na montanha, Heidi tenta animar o grupo puxando uma caminhada trilha acima
para algum lugar que não se consegue enxergar. As descrições são promissoras:
para este lado, se estivesse céu claro, veríamos uma cadeia de montanhas
nevadas que se estende até a Itália. Olho para onde Heidi aponta e não vejo
nada além de dois ou três metros adiante. O grupo vai aumentando e compactando
com a chegada de mais alemães que também vem para ver o nada. Andamos mais um
pouco pela trilha que vai-se estreitando até que alguém da segurança aconselha
a volta ao restaurante da estação do cable-car pois estamos em uma trilha sobre
um estreito espigão que se torna mais perigosa por causa da cerração.
Dou
meia volta pensando que confirmei ser este um "programa de índio".
Estamos a mais de 2.000m de altitude e, no restaurante, Heidi ainda tenta ser
positiva uma vez que viemos para ficar até a noite. É então que descubro a
razão da excursão: hoje é 24 de junho, o meio do verão e na Bavária celebra-se
esta data acendendo fogueiras nos picos e encostas das montanhas para que todos
possam ver a partir das cidades abaixo.
A
estas alturas o buffet de jantar incluído no pacote que a Hochschule está
oferecendo já está sendo servido. Estou de olho nos bifes que cheiram a
churrasco na grelha do lado de fora do restaurante. Finalmente, depois de três
meses de jejum, comerei uma carne de vaca!!! De olho grande, pego dois bifes de
uma vez. O gosto é delicioso, mas a carne dura e passada me faz deixar o
segundo pedaço. Acabo comendo as tradicionais salsichas e lingüiças que nem em
aspecto nem em gosto estão lá essas coisas.
Olho
pela janela panorâmica do restaurante e vejo que, inesperadamente as nuvens
começam a rarear e sol ainda bastante alto vem dourar a neve aos pés do
restaurante e nos picos logo ali adiante. Todos se animam e Heidi sai puxando
nova incursão à trilha que abandonamos antes. Como o tempo ainda não está
firme, não acredito e decido ficar por ali mesmo, sem dar descanso à minha
Nikon. Mais algum tempo, e vejo as silhuetas de Heidi e Paul emergindo da
neblina que vai e volta. De qualquer forma vamos ficar por ali até a noite pois
nossa passagem de volta está marcada somente para as 22h30.
Mais
30 minutos da dança das nuvens e elas acabam cedendo para deixar toda a
paisagem ao nosso dispor. E que disposição! O restaurante está como que em
balanço sobre a borda norte do que pode ser a cratera de um antigo vulcão. É o
local onde chega o cable-car que vem de Mittenwald. O interior da ampla cratera
está passos da saída do restaurante e oferece uma alta camada de neve do último
inverno ao alcance da mão. A trilha que começo novamente a percorrer segue a
crista ao longo da borda sul da cratera. À medida que subo pela trilha vejo a
paisagem majestosa que Heidi tentou descrever: de um lado - para o norte - está
a paisagem alemã com a vista de lagos e vilarejos quase até Munique. Para o
sul, a majestade e a miríade de picos dos Alpes austríacos e dos Dolomiti
italianos. Exatamente na metade deste verão atípico, ainda resta muita neve
manchando de branco os picos e o verde das encostas.
Vou
subindo e, como antes, a trilha vai-se estreitando à medida que avança pela
borda afiada da cratera. Estou percorrendo exatamente a fina linha que marca a
fronteira sul da Alemanha com a Austria. Continuo subindo e meio que me
equilibrando pela trilha até que, quase atingindo um dos picos, o avanço é
impedido pela neve que se esparrama para os dois lados do espigão. Aqui um
passo errado pode ser fatal. Olho em volta. Os Alpes e estas encostas, picos e
trilhas nevadas são o sonho dos montanhistas e um dos meus sonhos de
adolescência. A paisagem espetacular coberta de picos com neve que vão se
sobrepondo em tons cinza-azulado até onde minha vista alcança me faz pensar que
melhor do que isto só um vôo rasante de helicóptero como nos filmes James Bond.
Com o acender de luzes ao longe vejo que me demorei nos meus devaneios. Volto
pela trilha tentando entoar uma canção tiroleza que não sei, e tudo que consigo
é um desafinado "aloleríí". A fogueira na borda da nossa cratera já
está acesa e vejo diversas outras nas encostas e picos próximos. A mais
espantosa, pela dificuldade de levar lenha para o local, fica no topo do pico
mais alto e mais escarpado desta região, como se fosse a ponta de um
Dedo-de-Deus em chamas.
No
terraço do restaurante Heidi propõe um brinde com licores locais e eu, a
indiana Mahdu, o inglês Paul, o grego Costas e sua família brindamos o dia e o
fato de estar aqui. O ritual está completo, as preces feitas e o mid-summer
celebrado. Descemos a montanha a bordo do cable-car desfrutando do espetáculo
de um céu estrelado guarnecido pelas montanhas agora escuras, mas pontilhadas
de fogueiras por todos os lados. Agradecido por tanta beleza posso dormir com a
certeza de que foi um dia cansativo mas que, finalmente, valeu a pena.
Munique,
25 de julho de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário